sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A síndrome de vira-latas

O que lemos na maioria dos jornais?

O que assistimos na televisão?

O que ouvimos nas rádios?

Temos certeza que a maior parte dos comentários são do tipo:
"O Brasil é o 2º país no ranking de mortes pela gripe suína";
"Brasil: 50 milhões de miseráveis não têm nada a comemorar";
"Brasil comemora sua independência com corrupção, violência, mortes e vergonha no Congresso Nacional."

Com certeza ninguém vai dizer que somos o único país do hemisfério sul dentro do projeto Genoma e que nossos cientistas estão entre os mais admirados do mundo.

Ninguém vai dizer que o Brasil é o país que tem tido o maior sucesso dentre todos os países no combate à AIDS e vem sendo exemplo mundial.

Ninguém vai dizer que temos hoje o menor índice de desemprego desde 1997, que temos 20 fábricas de veículos instaladas, e que somos uns dos maiores mercados do mundo contemporâneo e que, apesar da crise, as empresas continuam com suas intenções firmes de investimento. Ou seja, ninguém mostrará a parte cheia do cálice chamado Brasil. Só mostrará a parte vazia. Vamos novamente nos auto-flagelar, falar mal de nós próprios. Vamos nos chamar a todos de corruptos, ladrões, aproveitadores e preguiçosos. Porque somos assim?

A manchete de um dos maiores jornais do Brasil, ao noticiar o menor índice de desemprego desde 1997 assim escreveu: "Desalento e descrença faz índice de desemprego baixar" e no corpo da matéria afirma que as pessoas estão tão desalentadas, desencantadas e desanimadas que "desistiram de buscar emprego". Será esse também o motivo para os espanhóis de Madri terem 21% de desemprego? Ora, se isso é verdade, o oposto também deveria ser.

Todos os países comemoram suas datas nacionais valorizando os aspectos positivos da nação, do povo, das pessoas. Porque não nos comparamos com a violência do Oriente Médio? Com os atentados na Irlanda, na Espanha, em Londres? Com os desabrigados dos Estados Unidos? Com o que está acontecendo nos países africanos?

Porque não dizemos que temos 90% das crianças de 7 a 14 anos freqüentando escolas e só falamos do "baixo nível da educação brasileira"?

Porque não dizemos que temos centenas de educadores brasileiros amenizando a dor do analfabetismo na África e só falamos da incompetência da escola pública?

Porque não propalamos que o Brasil tem 40% dos internautas da América Latina e que somos o 5º país do mundo em número de telefones fixos instalados e o 2º maior mercado de telefones celulares?

Porque não falamos que temos o mais moderno sistema bancário do mundo?

Que nossas eleições tiveram mais de 100 milhões de votos apurados em 24 horas? E nos esquecemos do "fiasco" da eleição norte-americana...

Porque não falamos que de meros exportadores de tecidos, somos hoje considerados uma das capitais mundiais da moda?

Porque não propalamos que somos o país em desenvolvimento com o maior número de empresas com certificação de qualidade pela ISO 9000, com mais de 6.890 empresas certificadas enquanto o México tem apenas 300 empresas e a Argentina 265?

Porque não publicamos que a produção industrial tem caído nos últimos anos - 16% em Cingapura, 12% em Taiwan, 10% na Malásia, 8% no Japão, 5% no México, 3% nos Estados Unidos?

Porque não propalamos que somos o 2º maior mercado de biscoitos, jatos executivos e helicópteros, chocolate, que nosso mercado editorial de livros é maior do que o da Itália, com mais de 50.000 títulos novos por ano?

Que nossas agências de publicidade ganham os melhores e maiores prêmios do mundo?

Que somos o país mais "empreendedor" do mundo com 16% da população economicamente ativa, na frente, inclusive, dos Estados Unidos?

Que a cidade do Rio de Janeiro foi considerada a mais "solidária" e "feliz" do mundo, segundo pesquisa do "The New York Times"?

Que mais de 70% dos brasileiros - pobres e ricos - dedicam considerável parte de seu tempo em trabalhos voluntários?

Que nosso setor agrícola e pecuário vem se desenvolvendo com produtividades crescentes e moderna tecnologia ratificando-se ser o "Brasil, Celeiro do Mundo"?

Que possuímos 8% de toda água potável do planeta Terra, exatamente no momento que a falta de água é a ameaça mais assustadora que a humanidade tem pela frente?

Porque não dizemos que somos hoje a 3ª maior democracia do mundo?

Que apesar de todas as mazelas, o Congresso Nacional está punindo seus próprios membros, o que raramente ocorre em outros países "civilizados"?

Será que sabemos que a população indígena brasileira vem crescendo e com terras demarcadas, além de escolas que buscam sua sobrevivência cultural?

Quantos países têm a imprensa livre e investigativa que temos?

Este verdadeiro "vício" de se auto-flagelar, de só falar mal de si próprio, faz o brasileiro ficar literalmente cego para valores essenciais de nossa cultura, de nosso povo, da nação brasileira, restando-nos essa sensação horrível de que somos o povo mais infeliz do universo.

Quanto tempo levará o brasileiro para abrir os olhos?

É claro que temos problemas - e muitos. E graves! Mas temos muito a comemorar, a começar pela parte cheia do cálice chamado Brasil.
Dizem que temos o que merecemos. Porém, com relação ao nosso Brasil, temos muito mais do que merecemos!

É preciso aprender a ser brasileiro, cultivando o sentimento de amor pela Pátria e pelo povo, unindo-se em prol do ideal de uma sociedade, onde justiça e paz se abracem para levar a esperança ao coração dos despojados e dos excluídos. É preciso deixar de ser mero expectador e construir uma nova historia.

Pois ser brasileiro é sofrer, renunciar e chorar, mas ter no coração a certeza de que nossas lágrimas irão regar a semente do mundo novo.

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