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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Lobo mau em pele de cordeiro



Chega a ser risível e patética a comoção em torno do doping repetido, veja bem, repetido, de Anderson Silva.
Há quem lastime, com aparente sinceridade, pela traição de um ídolo para com seus fãs.
Um ídolo de barro, bradam outros supostamente enganados pelo Spiderman.
Um verdadeiro esportista jamais se doparia e desencantaria seus torcedores.
Hipocrisia!
Inúmeros esportistas com ar angelical se dopam.
Na verdade, a maioria.
No começo, no meio ou no fim de suas carreiras se doparam ou se dopam de um jeito ou de outro.
Que tédio!
E empresários que lavam dinheiro, se drogam e se embebedam, aparecem como santos do pau oco, em nome da pureza do esporte.
Repita-se: que tédio!
Além do mais, quem disse que a prática a que se dedica Anderson Silva é um esporte?
Convenhamos: quem acredita nisso, acredita em qualquer coisa.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Crônicas de ano novo... De novo!?



Ano novo, vida nova, assim como todos falam, o mundo fala, a televisão fala, as pessoas falam. Fogos são queimados, espumantes estourados e muita festa em meio a grande bebedeira. As pessoas escolhem as cores para poder entrar com o pé direito no novo ano, sem nenhum pudor. Ainda há muitos que lotam as praias, passando por todo tipo de perigo, para assistir às belas queimas de fogos. É no ano novo que se esvai toda aquela histeria e loucura coletiva, iniciada com as músicas natalinas ainda em novembro, quando as pessoas gastam tudo o que tem, gastando até mesmo mais do que tem, para poder ter uma noite feliz, para finalmente, comemorar a virada do ano, sem ter a idéia de que já em janeiro, vêm as dívidas e os gastos e muitos problemas, jogando por terra todo esse lema de ano novo, vida nova, pois na verdade, é um ano exatamente igual ao anterior.

É nessa mesma época que vemos pessoas fazendo planos, resoluções e desejos para o novo ano, em que planejamos tudo. Mas apesar de tudo, a gente acaba muitas das vezes esquecendo nossos planos, justamente por conta destas mesmas dificuldades repetitivas que temos todos os anos. E acabamos com mais um ano de metas não cumpridas, criando mais um ciclo vicioso, um grande redoma que faz impossível tornar sair. Às vezes, as melhores coisas da vida são aquelas que não planejamos ou que não desejamos, ou o que desejamos tanto e acabamos conseguindo nos momentos que nem mesmo percebemos ou até mesmo quando pensamos em desistir, e a vida acaba de nos devolver.

No fim de tudo, que a gente não fique apenas em desejos e criação de metas. Que possamos mesmo agir, tomar atitudes, que a gente possa fazer diferença a cada dia, a cada minuto, pois nada cai do céu. A mudança, a grande mudança, só ocorre quando a gente passa a se levantar da nossa zona de conforto e passa a caminhar com as nossas próprias pernas, quando a gente decide olhar a paisagem e mergulhar nela, não ficando na inércia, por mais confortável que ela seja. Nenhuma mudança ocorrerá se a gente permanecer na nossa zona de conforto, andando em círculos, achando que poderia permanecer ali para sempre, sem corrermos o risco de ser atropelados pela vida. 

Seja você a mudança, não de ano após ano, mas dia após dia, momento após momento. Do contrário, não fará nenhum sentido gastar o suor do seu trabalho em ceia de ano novo, em roupas caras, em bebidas e comidas aos montes. De nada adianta correr todo tipo de perigo em praias e locais altamente movimentados ou gastar fortunas em viagens como forma de virar o ano. Fazer além disso seria uma grande mudança na sua vida, uma forma de dizer eu mudei, pois mudança é uma atitude, já que o novo ano traz 365 oportunidades de mudanças, de ser feliz e encontrar o sentido e o propósito de nossa passagem por aqui. Que tomemos coragem nesse novo ano que se inicia, pois ela é o motor da mudança e que deixemos o passado pra trás, mas que deixemos pra trás, principalmente, a crônica da virada do ano, a crônica da histeria de fim de ano, que gera falsidade, uma falsa esperança a cada 31 de dezembro. Que possamos, a partir daqui, viver de verdades e certezas e não mais de promessas.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Muito obrigado, Chespirito!



Alô, pessoal do céu! Preparem um belo sanduíche de presunto, um suco de limão que pareça de tamarindo e tenha gosto de groselha, um prato cheio de churros suculentos e douradinhos, coloquem o filme do Pelé para passar no telão, um bilboquê novinho e um pirulito desses enormes. O Chaves está voltando para casa. Isso, isso, isso. Agora vai, finalmente, ser apresentado para os pais, ganhar roupa nova, poder dormir em uma cama bem macia e jogar futebol com uma bola de nuvem. Agora não tem mais piripaque, brinquedo velho, pipipipi ou cascudo na testa. Podem avisar a Tangamandápio que o Jaiminho já reencontrou o seu velho amigo. Seu Madruga também está feliz, pronto para continuar com as aulas de boxe e os ensinamentos de sapateiro. Avisem também, lá na Vila, que o Seu Barriga pode entrar sem se preocupar com qualquer acidente, que a Dona Florinda precisa contratar um novo garçom para o restaurante e para o Professor Girafales que, infelizmente, terá que retirar o nome do Chaves da chamada da escola. Tratem de dizer ao Quico e à Chiquinha para tirarem essa tristeza dos olhos e se lembrarem da promessa que fizeram: despedir sem dizer adeus jamais. O Chaves está bem, ora brincando com o Godinez no carrossel, ora jogando ioiô com os anjos em uma praia como a de Acapulco, um verdadeiro paraíso, muito diferente da casa da bruxa do 71. Meu amigo de infância colocou a trouxinha nas costas e se mandou. Eu sei Chaves, foi sem querer querendo. Que travessura a sua, nos deixar assim tão de repente.
Tinha que ser o Chaves de novo.
Obrigado pelos inúmeros momentos inesquecíveis e por ter feito parte da minha vida ontem, hoje e por todo o sempre.
Vá com Deus, gênio!



'Black Friday' ou 'Black Fraude'?


domingo, 5 de outubro de 2014

Nem Freud explica...


sábado, 6 de setembro de 2014

terça-feira, 8 de julho de 2014

1950 x 2014, um choque de realidades



Logo depois daquela bola de Ghigghia ter passado entre os braços de Barbosa e a quadrada trave esquerda do Maracanã, o arqueiro brasileiro olhou para cima suspirando fundo. Talvez sabendo que aquele instante se perpetuaria na história do futebol brasileiro. Aquela chaga seria eterna em sua vida e em sua carreira.

Hoje, no céu, os companheiros do goleiro de 1950 estão vendo o jogo Brasil x Alemanha pela Sky, provavelmente.

Eles viram Müller fazer 1 a 0 no Mineirão. E não viram nenhum zagueiro brasileiro por perto, nem o excelente David Luiz, que foi desatento como não costuma ser.

Os zagueiros Augusto e Juvenal comentaram entre si que aquele erro do primeiro dos sete gols (e sete erros!) eles não cometeriam depois do escanteio. Até porque, em 1950, a bola saía pela linha de fundo e já jogavam na área. Não tinha lance ensaiado. Nem a chegada dos zagueiros. Muito menos alguém tão livre como ficou Müller em uma semifinal de copa do mundo.

No segundo gol, Bauer e Danilo Alvim lamentaram a desatenção na entrada da área. Alguém brincou com Bigode que se ele havia sido muito cobrado pelos dois gols que saíram pelo lado esquerdo da defesa em 16 de julho de 1950. Imagina agora o que não detonariam Marcelo…

O terceiro gol alemão parecia ter sido feito contra os 200 mil torcedores anestesiados depois do apito final no Maracanazo. Todos olhando a Alemanha tratar a bola como se fosse o Brasil sonhado, no Mineirão.

O quarto gol foi uma infelicidade de Fernandinho. Daquelas que ninguém cometeu na final de 1950.

O quinto gol estava impedido. Quem se importa?

O sexto foi outra linha de passe. Ou seria o sétimo?

Perdemos as contas.

Jair Rosa Pinto e Zizinho lamentaram a falta de armação no jogo e em quase toda Copa. 

Reclamaram a ausência de craques como eles. Dois monstros que não ganharam o mundo. Mas conquistaram o planeta bola.

Ademir de Menezes, goleador de 1950, lamentou a péssima forma do artilheiro Fred.

Não poucos lamentaram a ausência do lesionado Tesourinha no time de 1950.

Mas Friaça falou e calou todos:

- Mas quem fez o gol da última partida fui eu, lá da ponta direita, onde jogava o Tesourinha…

Verdade. Ninguém chorou pela ausência de um dos tantos craques de 1950 como tanto se lamentou a perda de Neymar.

Chico lamentou que Hulk não conseguiu ser o jogador da copa das confederações. Não apenas ele. Todos jogaram muito mais em 2013, quando não havia Alemanha. Nem Argentina. Nem Holanda.

Flávio Costa lamentou que tenha sido tão criticado pela perda do título de 1950. Mas entende que Felipão não pode ser tão crucificado como já está sendo.

- Pode sim! Montou o time errado! Mexeu errado! O Parreira também não tinha que falar que éramos favoritos antes de começar a Copa. Onde já se viu?

Quase todos lembraram que o oba-oba em 1950 foi 2014 vezes pior que este ano.

Fato.

Houve um silêncio.

Não tanto um silêncio ensurdecedor como no final daquela tarde de 16 de julho de 1950.

Mas houve um silêncio entre todos eles.

Respeitoso silêncio.

Barbosa apareceu na sala de TV da classe de 1950 lá no céu.

Ele pegou o controle remoto e começou a zapear.

Todo o time de 1950 olhando para ele. Esperando algum comentário. Alguma lástima. Alguma cornetada. Algum suspiro olhando para o céu como aquele de 16 de julho. Ainda que, hoje, o suspiro seria olhar para os lados. Para os velhos companheiros de dor. De derrota. De vice-campeonato mundial.

Barbosa continuou sua zapeada na TV. Vendo os comentaristas de sempre, cornetaristas de plantão, ex-atletas, ex-jornalistas, ex-treinadores, ex-árbitros, ex-colados, ex-craques, ex-colunistas, calunistas, todos detonando tudo. A torcida, a Fifa, a Dilma, o Lula, a grama, o excesso de grana, a falta de gana, os cambistas, as cambalhotas, o reich, o führer, a Alemanha, os godos, ostrogodos, visigodos, gordos e magros.

Barbosa ouviu muito, concordou pouco.

Alguns companheiros foram jogar cacheta. Alguns foram bater as asas de anjo em outros cantos.

Ele acabou sozinho.

Mais uma vez.

Suspirou fundo. Olhos para todos os lados.

Saiu da sala e foi até o gramado ao lado.

Viu a trave do campinho onde ainda hoje eles batem uma bolinha celestial lá no campo dos sonhos.

Foi até lá.

Quando encontrou os dez uruguaios de 1950 que já estão no céu. (Ghigghia, justo o Ghiggia do segundo gol, ainda está vivo. Muito vivo. Só ele ainda está entre nós – não entre eles no campinho dos céus). Todos batendo sua bolinha, em ainda mais respeitoso silêncio que o do Maracanazo.

Os celestes nada falaram quando viram Barbosa de novo debaixo das traves.

Ele abriu os braços como se fosse fazer a defesa que todas as noites ele tenta fazer desde 16 de julho de 1950. Em vez de agarrar a bola que então e para sempre escapa, ele recebeu dez abraços respeitosos dos adversários. E, logo depois, mais dez abraços dos companheiros de vice-campeonato em 1950.

Ninguém falou nada. Apenas abraçaram o goleiro que o Brasil culpou.

Acabada a sessão de abraços, Barbosa deixou a trave do campinho e voltou ao seu quarto para fazer a oração de todos os dias desde 16 de julho de 1950.

Quando pediu a Deus mais uma vez para que nenhum goleiro sofra o que ele passou.

Para que Júlio César e nenhum outro dos amarelos de 8 de julho de 2014 sofram o que a classe de 1950 sofreu eternamente.

Barbosa orou bastante.

Talvez, agora, seja escutado.

Mas, se não for, mais uma vez ele fez a sua parte.

Vergonha não é perder.

Vergonhoso é não saber perder.

Ainda mais quando não se está em campo e em jogo para ser derrotado.

domingo, 1 de junho de 2014

Era uma vez um país, uma Copa do Mundo, duas figuras repugnantes e... CAXIROLAS!



Triste é o país-sede cuja única obra pronta e aposentada (louvado seja!) antes do tempo para a Copa do Mundo é a tal da caxirola…

Mas imaginemos o que seria o mundial no Brasil com essa peculiaridade. Bósnia & Herzegovina x Irã jogam pela terceira rodada em uma arena superfaturada para o mundial – e subutilizada a partir de então. Pai e filho ganham ingressos numa promoção da esquadria de alumínio oficial da copa.

- Paiê, a moça da recepção pediu para chacoalhar isso aqui. Como faz? É para cima e para baixo ou para os lados?

- Putz, filho, perdi o manual de instrução…

- Mas você nunca lê, pai… Deixa eu ver… A moça aqui do lado está balançando de qualquer jeito. Ah, não! Aquilo ali é o saco de pipoca oficial da copa. Acho que é para misturar o sal.

- Não, filho. Aquilo ali é a Pamundial, a pamonha oficial da copa.

- Não, pai. Agora eu vi. É o KebaBrasil, o churrasquinho greco-brasileiro oficial da copa.

- Sei. Então, o pessoal da promoção pediu pra gente fazer bastante barulho com a caxirinha.

- Caxirola.

- Isso. Só não sei se tem de cruzar os braços como faz o Charlie Brown Jr. com a cangibrina…

- Caxirola. Carlinhos Brown…

- Cacilda!

- Caxirola, pai.

- Não, cacilda, é que não consigo nem tocar e nem acertar o nome desse fuleco, desse coiso de coisar do Carlinhos Bronson.

- Pai, não fala assim. Eu vi a presidente falando que é muito legal a caxirola. Ela é uma coisa que tem, como é mesmo…. Ah, está aqui no papel, achei bem bacana: “um sentido transcendental de cura”. Achei bonito. O que é isso?

- A cachola?

- Não. O que a presidente quis dizer?

- Filhão, eu não sei. Mas a moça da firma que nos trouxe ao estádio pediu para que, em vez de gritar “gol” temos de tocar a canajuba e berrar “Uma janela para o mundo. Viva a esquadria Cashiwindow!” E, depois, cantar “Sou brasileiro, com muito orgulho e muita esquadria Cashiwindow.”

- E se a gente esquecer, pai?

- Não vamos pegar a van de volta. Melhor decorar.

- Tudo bem. Mas pode xingar o juíz?

- Pode. Mas daí não pode ao mesmo tempo tocar a carnaúba.

- Caxirola, pai!

- É, a camaçari. Então, não pode associar uma reclamação com a “alegria, a ginga e a malemolência incentivada pelo governo dessa nova tradição inaugurada em Brasília que caiu na boca do povo”, meu filho. Está no guia, página 77.

- Pai, por que na entrada não deixaram o cara da frente entrar com um radinho de pilha e um guarda-chuva, mas nem checaram a caxirola?

- Filho, fala baixo. Eles me passaram um SMS da lista de produtos e de assuntos oficiais que podem ser falados nas arenas. Normas de segurança interna são assuntos da Fifa. O Brasil corre o risco de ser desfiliado da entidade se o torcedor não seguir o caderno de encargos da copa.

- Então é bom aprender a tocar a caxirola, pai. Pensando bem, usando fone de ouvido, protetor auricular e um gorro, até que ela é legal!

- Eu acho. Valeu pagar 100 reais por algo tão útil como esse chocalho, o bonequinho do Fuleco e pelo suporte para cinto da cajuína.

- Caxirola, pai.

- Isso. Vamo que vamo, Brasil!

- Pai, é “Vamos que vamos”. Pediram pra gente usar o plural corretamente nos jogos.

- É verdade filho. Maldita hipocrisia! É bem a cara desse país mesmo...

domingo, 20 de abril de 2014

A voz de um gênio que se cala



Se você nasceu entre 1970 e 1990 e gosta de esportes de uma forma geral, muito provavelmente deve isso a Luciano do Valle. Foi graças ao "Show do Esporte'', nos domingos da TV Bandeirantes, que foi cunhada boa parte da atual geração da indústria do esporte no Brasil.

Além do espetacular narrador que foi, Luciano foi o maior empreendedor do esporte brasileiro. O boom de popularização que existiu no esporte nos anos 80 se deve a ele. Um cara que teve a visão da importância da mídia na massificação do esporte.

Que colocou sinuca ao vivo nos domingos, que trouxe NBA e NFL para cá antes mesmo dessas ligas montarem uma estratégia de internacionalização, que promovia grandes encontros do esporte nos seus "Verão Vivo" e "Inverno Quente'', que fez existir o vôlei no país, que deu novo salto ao basquete, que popularizou as mesas redondas, que deu à Band, por diversas vezes, a liderança na transmissão esportiva.

Graças a Luciano, conseguimos ter o mínimo de cultura esportiva além do futebol. Gênio com o microfone na mão, ele foi ainda mais visionário no que se referia à relação da mídia com o esporte. Com uma brutal diferença: o modelo criado por ele era completamente rentável para o esporte, para os patrocinadores, para a emissora que exibia os eventos e para os profissionais de mídia que lá trabalhavam.

Mais do que o fôlego afiadíssimo para gritar gols, pontos, cestas, nocautes, recordes, vitórias, Luciano era o cara que permitia fazer existir toda uma indústria de marketing esportivo no Brasil quando isso ainda era chamado de "promoção''.

O futebol, entretanto, era sua paixão. O gol para ele era um momento tão intenso quanto fugaz. Uma explosão que não machucava, nem causava ferimentos, nem dilacerava ninguém. Trazia consigo um grito inopinado que saltava um obstáculo que parecia intransponível.

A bola carrega em si mesma, em sua esfericidade, o dilema de abrir as comportas da alegria. De se infiltrar entre pernas, braços, corpos transpirando atravessados no caminho. Driblar os esquemas e as táticas, derrubar os adversários, ultrapassar a linha tão lépida quanto possível. E adormecer, por vezes, aninhada e satisfeita, num canto da rede. Ou de, entusiasmada pela força de quem a remeteu, estufar aquela teia que acolhe todos os momentos únicos de uma partida. O gol tem essa dimensão poética encravada na garganta de quem vibra. O gol traduz a emoção de quem carrega bandeiras escondidas dentro de si mesmo. O gol representa o ato que começa e termina ao transcender o lampejo de uma vitória possível mas ainda improvável, porém acena com a perspectiva de um degrau conquistado.

Sim, o gol seria tudo isso e muito mais.

Mas nunca mais será o mesmo, não terá a mesma entonação, nem a mesma profundidade, nem a lágrima da euforia transmitida nos torcedores que desconhecidos se abraçam ou a sutura da tristeza de quem sofreu um gol na carne e na derrota, como se fosse um abalo sísmico a detonar sua esperança.

Sim, o gol teria muitas cores e camisetas e bandeiras.

Mas nunca mais será o mesmo.

Pois o intérprete mais vigoroso e pungente, o mais próximo da sublimação, se calou.

Luciano, a voz do gol de todas as torcidas, concluiu sua partida derradeira.

O esporte perdeu Luciano do Valle. E precisa de novos Lucianos para conseguir voltar a ser grande.

terça-feira, 4 de março de 2014

Carnaval e a realidade por detrás das máscaras



O carnaval é um dos maiores festejos do Brasil. Por trás das fantasias dessa festa está um trio de absurdos, uma escola de ignorância e uma ala de corruptos.

O primeiro erro é acreditar que o carnaval é uma festa genuinamente “made in Brazil”. Embora não há como comprovar empiricamente o nascimento do carnaval, sabemos que a cerca de 10.000 a.C. homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com seus corpos pintados, caras mascaradas, pulando e cantando para espantar os demônios da má colheita. Festejos parecidos e peculiares foram comemorados entre egípcios, gregos e romanos. Mas, o carnaval tal como conhecemos tem sua origem na Europa no Período Vitoriano e se espalhou pelo mundo afora metamorfoseando a outras culturas. No Brasil, quando aqui chegou por influência dos lusitanos das Ilhas de Madeira, Açoures e Cabo Verdena, na primeira metade do século XVIII, recebeu o nome de entrudo. Consistia de destrambelhadas correrias, mela-mela de farinha, água com limão que evoluiu depois para batalhas de confetes e serpentinas. Os primeiros blocos de carnaval e os famosos corsos só vão surgir no século XIX. E a primeira escola de samba somente em 1928, com a Deixa Eu Falar, no Bairro do Estácio, no Rio de Janeiro.

Enganam-se os pobres coitados que correm atrás de trios e de marchinhas carnavalescas pensando que carnaval é uma festa popular. Hoje carnaval é negócio, e dos mais lucrativos, coisa de gente rica. Pobre não tem acesso aos camarotes VIPs nas festas privadas e luxuosas e aos abadás caríssimos intitulados “passaportes da alegria”.

A maioria dos blocos, trios, palanques e escolas vivem à custa do poder público. Seu, meu e nosso dinheiro. E convenhamos, ninguém subirá em um palanque somente para fazer do carnaval uma festa democrática, ou para fazer feliz o público. Esses artistas, mega artistas, não cobram menos do que na casa dos milhares e até mesmo milhões para divertir um público anestesiado e supostamente feliz porque é carnaval. Uma política de circo para uma população paupérrima que não tem sequer um pão na mesa.

Todo carnaval são as mesmas coisas dantescas: a boa música é amordaçada pelas supostas músicas do momento como “o melô da mulher maravilha”, o tal do “lepo lepo” e um “ai se eu te pego”. Dezenas de ambulâncias são disponibilizadas para atender bêbados e machões brigões enquanto o povo morre às minguas nos corredores dos hospitais. A polícia é colocada com todo seu efetivo a fim de guardarem a ordem, e no dia a dia o mesmo folião que pula atrás dos blocos vive encarcerado dentro de sua casa por grades e muros com medo da insegurança.

Os falsos gurus da economia dizem até que o carnaval faz girar a economia, gera renda para dona Maria do cachorro quente e até para o senhor João catador de latinhas. Se João e Maria fossem depender do carnaval para o sustento de seus filhos, morreriam de fome. Carnaval só é lucrativo para grandes cervejarias, hotéis luxuosos, donos de trios elétricos e músicos famosos. No mais é prejuízo atrás de prejuízo. São gastos milhões para socorrer vítimas de acidentes de trânsitos dos mesmos foliões embriagados ao volante. Gastos em limpeza de rua, ao passo que os foliões parecem mais com porcos dançando em um chiqueiro. Fora os gastos com gravidez indesejada, e com tratamentos para novos soropositivos.

E o ano, como dito popular, só começa de fato após o carnaval. Só depois que os trios e os tambores, pandeiros e cuícas se calarem, que o efeito das drogas passarem e que as máscaras caírem é que se vai ter uma noção do prejuízo. Que o país das cores, das luzes, do deslumbre e da dança passou pela avenida e foi embora. E ficou a realidade.

A dura e vergonhosa realidade de um salário mínimo irrisório. A realidade dos altos impostos a serem pagos ao leão, não o leão da Escola Porto da Pedra, mas, o leão da receita. A realidade dos mega salários, dos corruptos, do mensalão. A realidade dos salários indignos dos professores, policiais e bombeiros que tentam salvar o que restou após o carnaval. Entre tantas outras realidades. Afinal, como se diz por aí, “é melhor morrer no país do carnaval do que viver no carnaval desse país.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Desejos de um ano novo



"Desejo, primeiro, que você ame,
E que amando, também seja amado. 
E que se não for, seja breve em esquecer. 
E que esquecendo, não guarde mágoa. 
Desejo, pois, que não seja assim, 
Mas se for, saiba ser sem se desesperar. 

Desejo também que tenha amigos, 
Que mesmo maus e inconseqüentes, 
Sejam corajosos e fiéis, 
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim.

Desejo ainda que você tenha inimigos. 
Nem muitos, nem poucos, 
Mas na medida exata para que, algumas vezes, 
Você se interpele a respeito de suas próprias certezas. 
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, 
Para que você não se sinta demasiado seguro. 

Desejo depois que você seja útil, 
Mas não insubstituível. 
E que nos maus momentos, 
Quando não restar mais nada, 
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. 

Desejo ainda que você seja tolerante, 
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil, 
Mas com os que erram muito e irremediavelmente. 
E que fazendo bom uso dessa tolerância, 
Você sirva de exemplo aos outros. 

Desejo que você, sendo jovem, 
Não amadureça depressa demais, 
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer,
E que sendo velho, não se dedique ao desespero. 
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
E é preciso deixar que ambos escorram por entre nós. 

Desejo por sinal que você seja triste, 
Não o ano todo, mas apenas um dia. 
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom, 
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano. 

Desejo que você descubra, 
Com o máximo de urgência, 
Acima e a respeito de tudo,
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes,
E que estão à sua volta. 

Desejo ainda que você afague um gato, alimente um cuco
E ouça o joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal. 
Porque, assim, você se sentirá bem por nada. 

Desejo também que você plante uma semente, 
Por mais minúscula que seja, 
E acompanhe o seu crescimento, 
Para que você saiba de quantas 
Muitas vidas é feita uma árvore. 

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, 
Porque é preciso ser prático. 
E que pelo menos uma vez por ano 
Coloque um pouco dele na sua frente e diga "Isso é meu!", 
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem. 

Desejo também que nenhum de seus afetos morra, 
Por ele e por você, mas que se morrer,
Você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem se culpar. 

Desejo, por fim,
Que você sendo homem, tenha uma boa mulher, 
E que sendo mulher, tenha um bom homem. 
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes. 
E quando estiverem exaustos e sorridentes, 
Ainda haja amor para recomeçar. 
E se tudo isso acontecer, 
Não tenho mais nada a te desejar."

VICTOR HUGO, poeta francês