sexta-feira, 26 de julho de 2013

Inigualável e incomparável... Os 70 anos de Mick Jagger



Mick Jagger tinha todos os antecedentes para não levá-lo onde o destino o levou em seus 70 anos de vida, a serem completados nesta sexta-feira. Um menino bem-educado, de classe média britânica, sempre obediente aos pais e bom aluno é um retrato pouco comum que se pinta de um ídolo do rock, ainda mais de uma banda que transformou-se no maior ícone de rebeldia dos agitados anos 60. Nos 50 anos praticamente ininterruptos de atividade, a aura subversiva não foi a única adotada pelo líder dos Rolling Stones.

De roqueiro 'sujo' e arrogante transformou-se em membro do jet set internacional, condutor de uma das mais poderosas máquinas de fazer dinheiro do século XX, roqueiro mimado e auto-suficiente até hoje, quando faz questão de 'esquecer' pessoas, lugares e fatos quando lhe convêm. A imagem (ou as imagens) que Mick passou ao longo das décadas o transforma em diversos personagens, sem que ninguém consiga chegar a uma conclusão. Afinal, o filho de Joe e Eva Jagger sempre cuidou, nos mínimos detalhes, dos trejeitos, atitudes e declarações milimetricamente para se tornar um astro da cultura pop ou sua inocência foi conspurcada por empresários e produtores inescrupulosos?

Só se pode decifrar o enigma Jagger através dos que estiveram próximos a ele -e se dispuseram a falar- já que o próprio é radicalmente refratário quando o assunto é o passado, seja seu ou dos outros. No início dos anos 80, um jornalista tentou entrevistá-lo várias vezes para escrever uma biografia. Após ouvir dezenas de "Não lembro!" ou "É tudo uma névoa!", seus editores abortaram a missão por acharem o assunto demasiado enfadonho, algo impensável para quem teve vida tão agitada. Entre os anos 80 e 90, o próprio cantor chegou a receber uma adiantamento de 1 milhão de libras para dar ao mundo sua autobiografia. Desistiu. "Comecei a escrever mas era deprimente e chato revirar o passado. Queriam que falasse de todas essas pessoas próximas a mim e que divulgasse todos esses segredos. Eu me dei conta de que não queria fazer isso. Portanto desisti e devolvi o dinheiro", disse, em entrevista recente. Ao menos provou que a memória continua intacta.

Mick nasceu Michael Phillip Jagger no dia 26 de julho de 1943 em plena Segunda Guerra Mundial, em Dartford, cidade do Condado de Kent, região sudeste da Inglaterra e distante 25km do centro de Londres. Seu pai era um respeitado professor de Educação Física e incutiu no filho mais velho -Mick tem um irmão, Chris, quatro anos mais novo- o hábito de praticar exercícios. A mãe, Eva, era uma dona de casa que falava pelos cotovelos. Inclusive, a primeira aparição do futuro vocalista para o grande público aconteceu por intermédio do pai, que gravou um comercial ensinando atividades físicas para crianças.

A iniciação musical dos adolescentes ingleses na segunda metade da década de 50 foi capitaneada pelos requebros e a voz soul de Elvis Presley. Mas com Mick, o roteiro seguiu uma linha mais visceral. Quem o emocionava eram os mestres do Blues e Rhythm & Blues. Rock? Sim, mas a guitarra frenética de Chuck Berry chamava mais a atenção do que os quadris de The Pelvis. O sofrimento daqueles artistas negros traduzidos nas suas músicas eram ouvidos com reverência quase religiosa: Robert Jonhson, Bo Didley, Muddy Waters, Howlin' Wolf eram alguns dos ídolos de Mike, como era chamado em casa.

Já como estudante na London School Of Economics, Mick encontrou por acaso em uma viagem de trem um velho amigo de infância de Dartford. Um cara de cabelos pretos e orelhas de abano chamado Keith Richards. Debaixo do braço dele, alguns álbuns de seus ídolos. Acendia a primeira fagulha da maior parceria do rock. A primeira banda da dupla chamava-se ‘Little Boy Blue And The Blue Boys’. Aos poucos os membros foram recrutados. Primeiro Brian Jones, depois Charlie Watts e Bill Wyman. No início, muito sofrimento até o estouro, no verão de 1965 com "(I can't get no) Satisfaction", número 1 na Inglaterra e nos Estados Unidos, música sobre a qual ele dizia o seguinte: "Prefiro morrer a cantar Satisfaction aos 45 anos de idade."

Ao longo da década, a popularidade da banda cresceu exponencialmente no mundo inteiro, capitaneada pelo singular domínio de palco de Jagger. O vocalista lapidou seu estilo show a show, tendo como pano de fundo uma sequência de álbuns geniais na virada dos anos 60 para os 70, quando os Stones pariam um clássico atrás do outro: "Jumpin' Jack Flash", "Sympathy For The Devil", "Street Fighting Man", "Gimme Shelter", "Brown Sugar"... No palco, Mick não hipnotizava as platéias como fazia um Jim Morrison, por exemplo. Ele elevava a outro nível, num misto de histeria, selvageria e descompromisso. Muito provavelmente foi o primeiro showman mais consumado do rock e sem ele não teríamos Robert Plant, David Bowie, Steven Tyler e Axl Rose.

Ao mesmo tempo em que sua fama crescia (as mulheres em sua cama e o dinheiro no bolso também), Jagger abandou o circuito underground dos primeiros tempos e virou figura carimbada nas altas rodas sociais. Seu casamento com a modelo nicaraguense Bianca Perez de Macia, em maio de 1971 na ilha de Saint Tropez foi um dos eventos mais comentados da década. O enlace jamais o impediu de desfrutar o fato de ser quem era. Entenda-se por diversas amantes, entre elas, a modelo italiana Anita Pallenberg, que entrou para o entourage dos Stones como namorada de Brian Jones e terminou como esposa de Keith Richards.

As conquistas sexuais do vocalista são um capítulo à parte em sua biografia. Antes de Anita, a primeira 'vítima' famosa foi Marianne Faithfull, que, reza a lenda, entrou de cabeça, nariz e veias nas drogas, por conta do ambiente decadente da banda. Ser mulher de amigo não era nenhum obstáculo como já mostra o citado affair com Anita. Angela Bowie, esposa do famoso cantor, inspirou até uma balada, Angie.

A ex-primeira-dama da França, Carla Bruni, também caiu nos encantos de um Mick Jagger já quarentão no início dos anos 90 quando estava saindo com Eric Clapton -que, por sinal, pediu ao amigo para que não a assediasse. Na lista figuram outros nomes famosos como Uma Thurman e Angelina Jolie. De todas essas mulheres, quatro delas lhe deram sete filhos: Marsha Hunt (1), Bianca (1), Jerry Hall (4) e Luciana Gimenez (1).

Todo dinheiro e fama ganhos nos anos 70 devem ter subido à cabeça de Mick durante a década de 80. Pelo menos é assim que seu parceiro de quase toda uma vida aponta na biografia ‘Life’. Keith não usa de meias-palavras para atacar o companheiro. Foi nessa época em que surgiram os apelidos Brenda e Sua Majestade. Segundo Richards, Jagger passou a se comportar como a estrela da banda e narra uma ocasião em que chamou Charlie Watts de “seu baterista” pelo telefone. Watts respondeu com um soco na cara do cantor posteriormente.

As tensões entre os dois principais líderes quase implodiu os Stones. Em 1985 ele lançou seu primeiro álbum solo, “She's The Boss”, despertando a ira do parceiro. Tanto que no ano seguinte, o clima era de tensão no mais alto grau para as gravações de “Dirty Work”, o 20º álbum de estúdio do grupo. Mais preocupado com a carreira solo, Mick ausentou-se diversas vezes das gravações. O clima de animosidade também revela-se nos créditos das faixas. Apenas 3 com a assinatura Jagger/Richards, algo que não acontecia desde 1965.

No mesmo 1985 o racha tornou-se público no festival Live Aid. Mick Jagger apresentou-se sozinho, enquanto Keith Richards e o guitarrista Ron Wood tocaram ao lado de Bob Dylan. A banda cairia na estrada para promover o disco, mas por decisão do vocalista, a turnê foi abortada para ele trabalhar no seu segundo LP solo, intitulado “Primitive Cool”. Keith chamava as atitudes do velho amigo de LVS, síndrome do vocalista principal, a partir da sigla em inglês.

A carreira solo não rendeu o esperado e uma boa conversa no final da década selou a reconciliação dos propulsores dos Rolling Stones. A dupla voltou a trabalhar após a inclusão do grupo no Rock And Roll Hall Of Fame, em janeiro de 1989. Depois disso, os Glimmer Twins, como Mick e Keith eram chamados, compuseram cerca de 50 canções. 12 delas tomaram forma em “Steel Wheels”, lançado no mesmo ano. Também foi anunciada uma gigantesca turnê mundial, que faturou mais de US$ 260 milhões, um recorde para a época.

A banda entrou num processo mais ameno no relacionamento entre seus integrantes, mas Mick não deixou de ganhar notoriedade. Desta vez por suas estripulias com as mulheres. Seu segundo casamento, com a modelo Jerry Hall, chegou ao fim após inúmeros casos de infidelidade. O ápice foi a notícia de que o marido havia engravidado a modelo brasileira Luciana Gimenez, na segunda passagem dos Stones pelo Brasil, em 1998, durante a turnê do álbum “Bridges To Babylon”. Ela pediu o divórcio no ano seguinte. De lá para cá foram muitas namoradas, mas sem nenhum casamento em vista.

A banda continuou em atividade até 2007, quando terminou a turnê “A Bigger Bang”. Tudo corria calmamente até Keith lançar sua autobigrafia em 2010. Além de descrições pormenorizadas do período de azedume entre os dois músicos, o guitarrista também faz referências pouco lisonjeira às intimidades do cantor, entenda-se pela genitália do cantor. Novo terremoto na relação, que prejudicaria, inclusive os 50 anos do grupo, completados no ano passado. Um pedido de desculpas de Richards foi uma das condições para que a maior banda de rock n’ roll do mundo voltasse à ativa. Mas mesmo assim, com arranhões.

Cantor, gaitista, guitarrista, compositor e produtor, Mick Jagger coexistiu com ícones do naipe de Jimi Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin, entre outros. Apesar de não ser dono de técnicas vocais gregorianas, é respeitado por praticamente todas as gerações subsequentes do rock. Há registros de um sem-número de estrelas da música que já declararam devoção ao vocalista dos Stones.

Leonino, ousado, inteligente, sensual e carismático, Jagger representa uma geração artística que rompeu com paradigmas e abriu caminhos para uma juventude que tinha um apetite voraz por novos tempos. Além de ser um rock star genial, Mick é testemunha ocular e lúcida de todas as transformações ideológicas e culturais florescidas nos já distantes anos 60.

Contrariando a previsão apocalíptica de muitos, ou bem ou mal, ou bom ou ruim, Mick completa sete décadas de vida em ótima forma física e ainda presta excelentes serviços à música. Um artista desta categoria não aparece por aí todos os dias.

Em suas respectivas sapiências, eventualmente, os deuses do rock decidem agraciar alguns seres com certa habilidade especial, também conhecida por talento. Com esta dádiva em mãos, estes artistas olimpianos conseguem criar obras atemporais e divisoras de águas. Mick Jagger é o artista contemporâneo que melhor personifica tal condição. E tomara que continue por muitos e muitos anos nos brindando com sua energia e estilo inigualáveis. Vida longa a Mick Jagger!

sábado, 13 de julho de 2013

Rock: a história segundo seu pai, Blues



Um velho senhor, conhecido pela alcunha de Blues, era famoso pelos seu contos e histórias que, quase sempre, falavam de amores, desilusões e tristezas. Tratava-se de um senhor negro, que diziam ter um olhar sereno e que transmitia certa tristeza. Quem bem o conhece, diz que não é bem assim.

Dessa vez, a história que Blues nos contaria não era sobre fatos fictícios e sim da realidade de sua vida e de seus descendentes.

Então, com a palavra o protagonista...

"Quando em casei com minha esposa (a última delas), não imaginava que nossos descendentes seriam, ao mesmo tempo tão brilhantes e difíceis de lidar. Para entender essas dificuldades é preciso voltar um pouco no tempo, na verdade, para o ano de 1950, creio eu.

Naquela época, eu já era um jovem senhor. Bem, tinha certa experiência no âmbito amoroso, inclusive, atribuem-me vários filhos que nem sei se realmente são meus, com exceção de um, Jazz, que era fruto de uma relação rápida e pouco representativa. Talvez por isso, ele nunca teve uma relação muito próxima comigo.

Eu já desistira de procurar alguém que, de fato, fosse companhia para os meus dias.

Mas...

Ela era uma linda mulher, com seus olhos verdes e um certo apelo "rural", mesmo que fosse dotada de uma classe para se portar... Enfim, era fascinante!

Chamavam-na de Country Music. Nos tornamos belos amigos, depois tivemos o romance mais tórrido que se tem notícia. Nos casamos e tivemos um filho: o Rock.

Meu filho Rock era um jovem transgressor, ao mesmo tempo que tinha grande inteligência. Nada nem ninguém dizia a ele o que fazer ou pensar. Teve diversas namoradas. Nenhuma mulher resistia ao seu charme e rebeldia. Eu acho que puxou isso ao seu pai.

Mas, o amor é assim, não avisa, chega de mansinho e faz o estrago. E assim o amor chegou para Rock.

A moça, uma bela ruiva de olhos azuis, era de família nobre, estudou nas melhores escolas, frequentou os mais caros lugares do mundo. Ao contrário de Rock, frequentava teatros. Estádios e bares não eram seu habitat. Erudita, como era chamada, enfeitiçou meu filho. Teve até quem disse que ela estragou meu filho, impondo classe a quem, segundo eles, devia ser o oposto disso. Eu não seria tão taxativo quanto a isso.

Dessa união surgiram frutos, um deles herdou toda a revolta de seu pai, outro a classe da mãe e o outro, bom, esse conseguiu unir ambos com maestria.

O mais velho dos filhos, chamado Progressivo, era muito parecido com sua mãe. Classudo, tudo para ele era grandioso, a megalomania era sua principal característica. Não sei porque, mas ele construiu uma relação estreita com o seu tio, o Jazz, bem maior do que com o seu próprio pai. Muito dos traços de sua personalidade foram fruto da sua relação com o seu meio irmão, o Psicodélico.

Diziam as más línguas que Progressivo não era filho do Rock, e sim do Jazz. Até hoje a lenda continua.

Metal, o filho do meio, era a ira conta tudo e todos. Seu meio irmão Psicodélico, que era fruto de uma relação rápida que seu pai teve em certa época, era tudo o que ele execrava.

Para Metal, a vida não era paz e amor, pelo contrário, era ódio e escuridão. Alguns diziam que Metal era afeito ao demônio. Ele nunca admitiu, tampouco desmentiu. Ele sempre foi próximo a mim, desde seu nascimento, e acabou sendo acusado de muitas das coisas que eu fui. Claro, com maior veemência.

Metal conseguia dosar as características de seus pais, mesmo que fosse mais parecido com o seu pai.

Durante os anos de sua existência, Metal se relacionou com diversas mulheres, tendo muitos filhos dos mais diferentes estilos.

O mais novo, Punk, era a essência do que seu pai foi. Ele era a revolta adolescente, apesar de possuir a maturidade necessária para abordar os temas que o incomodavam e contrariar a quem e o quê ele não gostava.

Somente seu pai conseguia agradá-lo. Nunca teve uma boa relação com sua mãe e irmãos, principalmente com Progressivo, que ele odiava por achá-lo metido demais. Nunca acreditou, inclusive, que fossem irmãos realmente. Ele sempre me respeitou, apesar de não sermos muito próximos.

Metal e Punk nunca se deram muito bem, mas a coisa se acirrou por causa de uma mulher. Sempre elas!

Punk conheceu uma inglesa, chamada Nova Onda, e tiveram um caso rápido. Nova Onda achava Punk meio imaturo, e alguns dizem que ele batia nela, inclusive.

A moça gostava e admirava muito Metal desde que ela era criança. Dessa admiração surgiu um amor estonteante, ainda na época em que tinha um lance com Punk. Até hoje dizem que ela flertou com ambos simultaneamente.

Nova Onda teve um filho, Thrash, que apesar de levar o sobrenome de Metal, alguns dizem ser filho de Punk. Essa rusga dos dois me destrói até hoje, apesar de já não ser tão grande como foi.

Particularmente, acho que Thrash é filho de Metal, mas que ele tem muito do seu tio, isso ele tem.

Minha família é enorme, mas os anos passam e eles não conseguem se acertar. A coisa é tão feia que seus amigos e admiradores trocam farpas até hoje. A harmonia não existe.

Uma vez, alguns religiosos me rogaram uma praga: disseram que eu e meus descendentes teríamos sucesso, dinheiro e fama, mas nunca viveríamos em paz. E de fato, não vivemos mesmo!"

terça-feira, 9 de julho de 2013

Maldito mundo capitalista