Brasil, potência e$portivamente impotente?
Entre os dias 5 e 21 de agosto de 2016, pela primeira vez na história, uma edição dos Jogos Olímpicos será realizada na América do Sul. Em eleição promovida nesta sexta-feira, em Copenhague (Dinamarca), o Rio de Janeiro superou a concorrência de Chicago, Madri e Tóquio, apagou as frustrações de candidaturas brasileiras fracassadas e ratificou o país como centro das atenções do mercado esportivo na próxima década.
A eleição do COI funciona por etapas. A não ser que uma cidade alcance a metade dos votos mais um, as menos escolhidas vão sendo eliminadas até que apenas duas polarizem a disputa final. Nesta sexta-feira, Chicago foi a primeira alijada da concorrência. Depois, Tóquio teve o menor número de sufrágios, limitando a briga a Madri e Rio de Janeiro. No fim, os brasileiros venceram por 66 a 32.
Sede dos Jogos Pan-Americanos de 2007, o Rio de Janeiro também organizará os Jogos Mundiais Militares em 2011. A capital fluminense ainda está entre as 12 selecionadas pela Fifa para receber partidas da Copa do Mundo de 2014, competição em que será o palco da decisão.
A maior prova do quanto o foco do mercado está voltado ao Rio de Janeiro é que a cidade apareceu, antes mesmo de ser escolhida como sede das Olimpíadas, em uma pesquisa feita pela consultoria Sportcal sobre as regiões com maior potencial para grandes eventos esportivos no planeta. O município brasileiro ocupou o oitavo posto no levantamento, que teve Berlim como líder - entre as quatro finalistas aos Jogos de 2016, somente Tóquio também foi citada entre os dez primeiros (figurou na sétima posição).
A avidez do Rio de Janeiro - e do Brasil - por eventos esportivos tem justificativa. Autoridades locais, do meio político ou da cena da atividade física, defendem a idéia de que essas são excelentes oportunidades para ratificar o crescimento econômico e fomentar obras estruturais no país.
Essa é uma das principais razões de o governo federal ter se comprometido a liberar R$ 800 milhões às obras das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro se a cidade precisar. Também reside na aposta que as autoridades fazem sobre o impacto do torneio o motivo de a candidatura brasileira ter apresentado a maior projeção de investimento entre as quatro finalistas - US$ 14,4 bilhões, mais do que o dobro das concorrentes.
Basicamente, as receitas referentes a uma edição dos Jogos são divididas entre a cessão dos direitos de TV e um programa de marketing desenvolvido pelo Comitê Olímpico Internacional, fortalecido enormemente desde que o espanhol Juan Antonio Samaranch assumiu o controle da entidade, antes de Moscou-1980.
As receitas de TV atingiram um total de US$ 1,737 bilhão nas Olimpíadas do ano passado, em Pequim. Quanto aos patrocínios, os 12 parceiros que o COI tinha até 2008 rendiam um aporte anual de US$ 866 milhões.
No entanto, a realização dos Jogos tem ganhos que vão muito além disso - e é nisso que o Rio de Janeiro aposta. O torneio gera cerca de US$ 1 bilhão em patrocínios locais, exige uma série de obras, atrai turistas e movimenta praticamente todos os setores da sociedade.
Existe outro benefício a ser considerado: os Jogos Olímpicos de 2016 vão atrair a atenção do mercado no Brasil para outras modalidades. Caso o país não tivesse ficado com a competição, a Copa do Mundo realizada dois anos antes criaria uma concentração - ainda maior - de atenções no futebol.
Com as Olimpíadas, o Brasil precisará desenvolver sua política para modalidades pouco exploradas no país. O país também tem uma oportunidade de criar um programa verdadeiramente eficiente para a formação de atletas, como a China fez para Pequim-2008 (considerando apenas os resultados).
A decisão do COI nesta sexta-feira abriu uma quantidade enorme de possibilidades para o Rio de Janeiro e para a política esportiva brasileira como um todo. Investidores, patrocinadores, público e mídia estarão focados no país na próxima década. Resta saber o que será feito para aproveitar tanta atenção.
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