terça-feira, 4 de março de 2014

Carnaval e a realidade por detrás das máscaras



O carnaval é um dos maiores festejos do Brasil. Por trás das fantasias dessa festa está um trio de absurdos, uma escola de ignorância e uma ala de corruptos.

O primeiro erro é acreditar que o carnaval é uma festa genuinamente “made in Brazil”. Embora não há como comprovar empiricamente o nascimento do carnaval, sabemos que a cerca de 10.000 a.C. homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com seus corpos pintados, caras mascaradas, pulando e cantando para espantar os demônios da má colheita. Festejos parecidos e peculiares foram comemorados entre egípcios, gregos e romanos. Mas, o carnaval tal como conhecemos tem sua origem na Europa no Período Vitoriano e se espalhou pelo mundo afora metamorfoseando a outras culturas. No Brasil, quando aqui chegou por influência dos lusitanos das Ilhas de Madeira, Açoures e Cabo Verdena, na primeira metade do século XVIII, recebeu o nome de entrudo. Consistia de destrambelhadas correrias, mela-mela de farinha, água com limão que evoluiu depois para batalhas de confetes e serpentinas. Os primeiros blocos de carnaval e os famosos corsos só vão surgir no século XIX. E a primeira escola de samba somente em 1928, com a Deixa Eu Falar, no Bairro do Estácio, no Rio de Janeiro.

Enganam-se os pobres coitados que correm atrás de trios e de marchinhas carnavalescas pensando que carnaval é uma festa popular. Hoje carnaval é negócio, e dos mais lucrativos, coisa de gente rica. Pobre não tem acesso aos camarotes VIPs nas festas privadas e luxuosas e aos abadás caríssimos intitulados “passaportes da alegria”.

A maioria dos blocos, trios, palanques e escolas vivem à custa do poder público. Seu, meu e nosso dinheiro. E convenhamos, ninguém subirá em um palanque somente para fazer do carnaval uma festa democrática, ou para fazer feliz o público. Esses artistas, mega artistas, não cobram menos do que na casa dos milhares e até mesmo milhões para divertir um público anestesiado e supostamente feliz porque é carnaval. Uma política de circo para uma população paupérrima que não tem sequer um pão na mesa.

Todo carnaval são as mesmas coisas dantescas: a boa música é amordaçada pelas supostas músicas do momento como “o melô da mulher maravilha”, o tal do “lepo lepo” e um “ai se eu te pego”. Dezenas de ambulâncias são disponibilizadas para atender bêbados e machões brigões enquanto o povo morre às minguas nos corredores dos hospitais. A polícia é colocada com todo seu efetivo a fim de guardarem a ordem, e no dia a dia o mesmo folião que pula atrás dos blocos vive encarcerado dentro de sua casa por grades e muros com medo da insegurança.

Os falsos gurus da economia dizem até que o carnaval faz girar a economia, gera renda para dona Maria do cachorro quente e até para o senhor João catador de latinhas. Se João e Maria fossem depender do carnaval para o sustento de seus filhos, morreriam de fome. Carnaval só é lucrativo para grandes cervejarias, hotéis luxuosos, donos de trios elétricos e músicos famosos. No mais é prejuízo atrás de prejuízo. São gastos milhões para socorrer vítimas de acidentes de trânsitos dos mesmos foliões embriagados ao volante. Gastos em limpeza de rua, ao passo que os foliões parecem mais com porcos dançando em um chiqueiro. Fora os gastos com gravidez indesejada, e com tratamentos para novos soropositivos.

E o ano, como dito popular, só começa de fato após o carnaval. Só depois que os trios e os tambores, pandeiros e cuícas se calarem, que o efeito das drogas passarem e que as máscaras caírem é que se vai ter uma noção do prejuízo. Que o país das cores, das luzes, do deslumbre e da dança passou pela avenida e foi embora. E ficou a realidade.

A dura e vergonhosa realidade de um salário mínimo irrisório. A realidade dos altos impostos a serem pagos ao leão, não o leão da Escola Porto da Pedra, mas, o leão da receita. A realidade dos mega salários, dos corruptos, do mensalão. A realidade dos salários indignos dos professores, policiais e bombeiros que tentam salvar o que restou após o carnaval. Entre tantas outras realidades. Afinal, como se diz por aí, “é melhor morrer no país do carnaval do que viver no carnaval desse país.