sábado, 28 de novembro de 2009

Yes, o rock 'n roll ainda sobrevive!

Símbolo máximo da juventude e de rebeldia contra a mesmice, o rock 'n roll nunca combinou muito bem com a idéia de envelhecimento. Mas 36 anos depois de plugar o mundo em seu hard rock de altíssima voltagem, o AC/DC parece longe de dar sinais de que esteja perdendo energia.

Diante de um Morumbi lotado, com mais de 65 mil pessoas, a banda formada na Austrália pelos irmãos escoceses Angus e Malcolm Young subiu ao palco às 21h35 e fez uma apresentação de exatas duas horas de duração, com direito a explosões, muito suor e um mar de chifrinhos luminescentes que fizeram as arquibancadas do estádio brilhar do começo ao fim do espetáculo. No palco, um show à parte de luzes e tecnologia: telões em alta definição exibiam trechos de animações e imagens em estilo de videogame e um conjunto de mais de 200 caixas de som proporcionavam um volume raramente ouvido em estádios.

O repertório, sem surpresas, foi praticamente o mesmo que vem sendo apresentado na turnê de "Black Ice", 15º e mais recente álbum de estúdio do grupo, que, apesar de lançado só em outubro de 2008 e de trazer poucas novidades, foi simplesmente o segundo disco mais vendido daquele ano.

Apoiado nas mesmas músicas (Back in black, Highway to hell e T.N.T.) e no mesmo figurino (Angus ainda não desistiu de se vestir como um colegial rebelde de bermuda e gravata [verde-e-amarela, para a ocasião]), o AC/DC não inventa moda. Faz um rock sem firulas, de riffs poderosos e instrumentalmente muito bem elaborado.

Há 13 anos sem visitar o país (a última vez foi em 1996, e a primeira no Rock in Rio de 1985), o vocalista Brian Johnson não fez questão de dizer que "amo muito vocês" ou de ficar papagaindo frases decoradas. "Não sabemos português, mas falamos uma língua que todo mundo é capaz de entender: rock 'n roll", avisou logo no início do show, iniciado com Rock 'n roll train, faixa do disco novo, dona de um dos riffs mais grudentos de toda a discografia do AC/DC.

A metáfora da locomotiva roqueira ou da máquina de guerra que não pode parar inspira não só os cenários do show, com direito a um trem de 6 toneladas e diversos canhões no palco, como traduz a própria perfomance de Johnson e Angus. Pouco se lixando para a barriguinha saliente ou para a calvície típicas dos seus bem mais que 50 anos de idade, vocalista e guitarrista concentram praticamente todas as atenções do público, ora correndo pelo palco de 78 metros de largura, ora incorporando o guitar hero em um solo de quase 10 minutos numa plataforma elevada na passarela projetada sobre o público.

Em um dos pontos mais altos do show, ao som da blueseira The Jack, de 1975, Angus faz um strip tease, ficando só de bermudas e com sua inseparável Gibson SG até o final do espetáculo. Sem ter nem sombra do sex appeal de um Mick Jagger, a intenção é menos de sensualidade e mais de fanfarrice. Suas musas não são top models, mas garotas sujas e de seios fartos como Rosie, a conhecida boneca inflável gigante que a banda traz de volta ao palco, desta vez de calcinha e cinta-liga, simulando sexo com a locomotiva do cenário durante a clássica Whole lotta Rosie.

Como há três décadas, o show do AC/DC é um grande teatro. Fala de sexo, de inferno, de trovão e de todos os clichês associados ao imaginário do gênero. Parece fácil de fazer, como o parecem os solos de Angus ou a bateria e baixo econômicos de Phil Rudd e Cliff Williams, mas poucos são capazes de repetir e com tamanha propriedade. O ano é 2009, mas a velha máxima continua valendo: é só rock 'n roll, mas quando é bom mesmo a gente elogia.

Como o AC/DC costuma vir ao Brasil uma vez a cada década, resta conferir se os integrantes conseguirão manter o mesmo pique quando estiverem se aproximando dos 70 anos de idade.


Repertório completo do show:
1. "Rock'n roll train" - de "Black ice" (2008)
2. "Hell ain't a bad place to be"- de "Let there be rock" (1977)
3. "Back in black" - de "Back in black" (1980)
4. "Big Jack" - de "Black ice" (2008)
5. "Dirty deeds done dirt cheap" - de "Dirty deeds done dirt cheap" (1976)
6. "Shot down in flames" - de "Highway to hell" (1979)
7. "Thunderstruck" - de "The razor's edge" (1990)
8. "Black ice" - de "Black ice" (2008)
9. "The Jack" - de "T.N.T." (1975)
10. "Hells bells" - de "Back in black" (1980)
11. "Shoot to thrill" - de "Back in black" (1980)
12. "War machine" - de "Black ice" (2008)
13. "Dog eat dog" - de "Let there be rock" (1977)
14. "You shook me all night long" - de "Back in black" (1980)
15. "T.N.T." - de "T.N.T." (1975)
16. "Whole lotta Rosie" - de "Let there be rock" (1977)
17. "Let there be rock" - de "Let there be rock" (1977)
18. "Highway to hell" - de "Highway to hell" (1979)
19. "For those about to rock (We salute you)" - de "For those about to rock" (1981)

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