terça-feira, 29 de março de 2011

AC/DC: o mundo dos goleiros 'Antes de Ceni' / 'Depois de Ceni'

20 anos de Rogério Ceni no Morumbi. 13 anos batendo faltas e pênaltis para fazer 100 gols na carreira e na história. Campeão do mundo, da América, do Brasil, de São Paulo e do Morumbi. E isso irrita quem não é.

17 anos de Rogério defendendo a meta tricolor. “Meta” que é a palavra perfeita para definir o craque. Ele é um profissional que parece bater um tiro de meta já com o objetivo definido. Determinado. Para isso se prepara. Treina. Estuda. Pensa. Faz. E isso irrita quem não se compromete como ele.

Os 100 gols de falta e de pênalti não são acaso. São casos pensados. Treinados. Ele é daqueles que treinam até faltar luz no centro de treinamento. E por isso acaba sendo tão iluminado quando é necessário. Quando é preciso como Rogério na meta são-paulina. Ainda mais tricolor quando defendida pelo maior craque-bandeira da história do clube. E isso irrita quem não gosta dele e do São Paulo.

Rogério não dá bola porque ele não a larga. É daqueles goleiros que diminuem o tamanho do gol para os adversários. Com Rogério, no banco de 1993 a 1996, titular absoluto desde 1997, o São Paulo, se não ganhou tudo, foi quase tudo. E quase tudo parou nas mãos de Rogério, e passou pelos pés, pela cabeça, pelos dedos do líder incontestável. Para o bem e para o mal. E isso irrita.

Rogério não é perfeito, muito também por ser perfeccionista. Exige tanto que chega a irritar. E ao se irritar, cobra porque se cobra mais que tudo e que todos. E isso irrita.

Como algumas saídas de meta em forma da cruz que aprendeu com o ídolo Navarro Montoya (que os não poucos críticos reclamam que ele se ajoelha demais); como as adiantadas nos pênaltis; como a fome de jogar de qualquer jeito; como algumas cobranças de falta desnecessárias no passado; como algumas cobranças no elenco exageradas; como algumas cobranças da (e na) direção mal contornadas no vai-não-sai para o Arsenal em 2001, que quase acabou com parte dessa história impressionante; como algumas poucas falhas em momentos decisivos que acontecem com todos os mortais. Por mais imortal que ele seja no Morumbi. E isso irrita.

Ainda mais os adversários que querem ver os erros do mundo nas luvas de Rogério. Parte da empáfia assumida e juramentada e juvenalizada são-paulina passa pelo capitão, líder e exemplo. Mas repare em cada linha bem pensada, articulada e falada por Rogério. Na derrota, na vitória, Rogério está sempre lá para defender o São Paulo. Pode perder a linha, vez ou outra. Mas jamais a segurança que passa aos companheiros, aos rivais e à instituição. À família são-paulina e à família Ceni que defende fora de campo tão bem como ele segura as pontas e os trancos na meta. Neste mundo midiático, escancarado e escandalizado, Rogério preserva e se preserva com categoria. Não se perde na noite e ganha o dia. E isso irrita.

Porque ele é diferente. Não apenas por fazer defesas como poucos na história do clube, não apenas por fazer gols como ninguém na história do futebol. Se Rogério pensa muito bem no que fala e no que faz, não pensa em ser lembrado e admirado como um ídolo de todas as torcidas. Rogério é tão são-paulino que tem o compromisso com o São Paulo. Só. De ser feliz e amado pelos tricolores. Só. E não faz questão de ser o ídolo que merecia ser de todos os torcedores. E isso irrita.

Como devem se irritar os não-são-paulinos que não puderam ver o Liverpool campeão do mundo porque Rogério segurou todas as bolas do massacre na final de 2005. A falta na gaveta de Gerrard que Rogério defendeu como se fosse um Ceni. O chute cruzado num bolo de gente que Rogério defendeu como se fosse um Ceni. As defesas daquele que foi tudo no Japão como se fosse um Ceni. E ainda foi o artilheiro do São Paulo na campeoníssima temporada de 2005 como se fosse um Ceni. E isso irrita.

Um ano depois de Rogério chorar como criança quando eliminado pelo Once Caldas, na semifinal da Libertadores de 2004, em Manizales. Quando pensou que não conseguiria mais (re)conquistar o que já havia ganho como reserva do imenso Zetti. Digno sucessor da escola tricolor de Valdir Peres, Sérgio Valentim, José Poy. Grandes, imensos goleiros debaixo das traves, em toda a grande área. Mas nenhum, no São Paulo, senhor de todas as áreas como Rogério. E isso irrita.

Talvez Rogério não seja mais goleiro que outros goleiros tricolores. Talvez Rogério não seja o maior craque entre tantos craques e gênios são-paulinos. Talvez outros raros tricolores tenham sido tão são-paulinos quanto ele. Mas não há ídolo como Rogério Ceni. Como diz com muita razão e enorme paixão o são-paulino, todos os times têm um goleiro. Só o São Paulo tem Rogério Ceni. E isso não se imita.

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