segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um fenômeno chamado Ronaldo

Não é verdade. Ronaldo não parou de fazer gols. Porque ele é artilheiro, o maior das copas. Ele é goleador. É Ronaldo. Não precisa parar com a bola, ainda que viesse parando a cada gol perdido, a cada lance não corrido, a cada jogo que empurrava com a barriga.

Ronaldo não parou com a bola. Nem ela parou com ele. É mentira. Como só pode ser história da carochinha o cara ter ficado quase 2 anos parado com o joelho detonado e voltar como campeão do mundo e artilheiro da copa de 2002. É coisa de cinema. E foi cinematográfica como aquelas jogadas de vídeogame, aqueles gols de futebol de botão, aqueles jogos que pareciam virtuais pelo Cruzeiro, PSV, Barcelona, Internazionale, Real Madrid, Milan e Corinthians. E obviamente, pela seleção brasileira.

Não se sabe se Ronaldo decidiu na hora certa a saída de campo. Mas sabe-se que, no gramado, desde 1993, para não escrever desde 1863, quase ninguém decidiu melhor que o Fenômeno. Tão fenomenal que valia quanto pesava mesmo quando, a partir de 2004, teve de brigar com rivais, quilos e línguas malignas. Nenhum outro gênio teve de driblar tantas lesões quanto ele.

Campeão do mundo com 17 anos sem jogar. Vice-campeão do mundo absurdamente escalado depois de ter convulsionado no dia da final. Penta e artilheiro em 2002. Um dos que se salvaram ao final das contas em 2006. Um que mais uma vez goleou críticos e cricris ganhando o Paulistão invicto e a Copa do Brasil em 2009. Um que trouxe muito dinheiro aos clubes onde passou. Um fenômeno também no marketing.

Pelos últimos meses, Ronaldo deveria ter parado, se é que já não havia parado. Por todos esses 18 anos de carreira, Ronaldo será sempre eterno. Precisa ser respeitado e admirado. Até quando pisou na bola, muito mais fora que dentro de campo, Ronaldo sempre foi mais humano. Mais humilde. Mais fenomenal.

Um marco que virou marca. O primeiro e maior dos Ronaldos. Um mito que, neste planeta um dia habitado por Pelé, foi o maior dos craques e dos cracketings. Gênio da bola e das boladas.

Dizem que não soube a hora de parar. E, por acaso, alguém sabe? Certamente não os que o aposentavam na Seleção depois de 1998 por suposta “falta de espírito de decisão”. Certamente não os que o achavam uma lata velha e enferrujada em 2002. Certamente não os que não quiseram ver a evolução dele durante a Copa de 2006. Certamente não os que achavam que não daria certo no Corinthians de 2009. Certamente não os que acham que futebol é apenas matemática e medicina.

Ronaldo driblou a medicina e fez números que nem a matemática soube calcular. Nem as finanças sabem contabilizar o que ganhou e o que fez muita gente ganhar e sorrir escancaradamente.

A tristeza não é pelo modo como Ronaldo parou ou foi parado pela falta de modos. A dor é por saber que, gordo ou magro, velho ou jovem, parado ou correndo, a esperança de que dali sairia algo fenomenal ninguém vai ter mais. Porque poucos, na história, foram tão imprevisíveis quanto ele na previsibilidade de que, de algum jeito, a bola pararia no fundo da rede.

O previsível fim chegou. Não há quem não fique doído como os joelhos destroçados dele. A dor de imaginar quanto mais ele não faria se não fosse o peso das dores patelares dos últimos 12 anos e dos quilos a mais nos últimos 7. A dor de ter certeza que dali não vai mais sair gol.

Ronaldo é um fenômeno não pelo insólito e pelo inédito. Mas pelo fenômeno de ser sempre fenomenal.

Tente ser um mito com aquele peso sobre as costas e sobre as pernas. Tente fazer tudo que ele fez pelos clubes e pelo Brasil. Tente superar lesões e lesados. Tente ser Ronaldo. Tantos tentam. Tantos caem em tentações. Até ele. Mas, no final que chegou, só havia ele cruzando a linha fatal. Só havia um Ronaldo.

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