domingo, 12 de dezembro de 2010

A reverência ao mito da TV brasileira

Falar de Silvio Santos é muito complicado. São múltiplas faces dentro de uma mesma pessoa. O menino pobre que virou milionário. O pai e o marido. O radialista. O quase político. O apresentador e animador consagrado. O dono de emissora. O empresário. Ou simplesmente o brasileiro Senor Abravanel.

Isso o torna diferente? Talvez sim, talvez não. Silvio Santos consegue ser o melhor sem deixar de ser próximo ao povo, como se ainda o fosse aquela pessoa comum, que apesar de descender de imigrantes, é “coisa nossa”. O carioca malandro que cresceu na vida com seu jeito de negociar na rua, com a lábia que um dia seria fundamental para ser apresentador e empresário.

O que dizem de Silvio Santos? O maior apresentador de todos os tempos, uma das personalidades mais queridas da história do Brasil, um exemplo de vida. São clichês em todas as matérias tais qualificações. Clichês mentirosos? Claro que não. Mas trazem a ilusão que tais títulos e honrarias vieram com facilidade tal qual a de seu improviso. Não é o que os quase 50 anos de carreira de Silvio Santos nos ensinam. Foram 50 anos exercidos em múltiplos canais, passando pela Rede Globo, Tupi, Record e no seu SBT, todos com o recordista de tempo no ar "Programa Silvio Santos". Isso, para não falar da sua participação especial na novela Carmen, da Manchete, de Adolpho Bloch. Sim, até ponta de ator o Silvio já fez.

Esse Silvio que muitos consideram o maior apresentador e nem todos entendem. Ele brilha no palco sempre quando encontra alguém disposto a levar a sério o improviso do “vamos sorrir e cantar”. Até na política ele improvisou uma candidatura a presidente. O Corrêa, 26, era Silvio Santos, 26. Mas na política isso não deu certo. Certo mesmo é que se costuma dizer que a alma do auditório, a alma de um apresentador só pode ser sentida quando ele improvisa. Quem não se lembra das altas farras que Sérgio Mallandro e Silvio Santos comandavam no lendário “Show de Calouros”? E nos bate-rebates de Silvio com Maisa e Lívia Andrade no atual “Programa Silvio Santos”? Ou mesmo nos momentos sempre épicos de Silvio com Hebe na reta final das maratonas do “Teleton”? Não existe teleprompter, existe o jeito de fazer TV diferenciado de Silvio Santos.

“Mas ele ser um grande apresentador não o torna um grande homem”. É verdade. Mas a história de Silvio Santos nos ensina a ir além. Além do que é necessário para ser o normal. Silvio tem gratidão, apreço, humildade por quem trabalha com ele e pelo povo brasileiro. Desde 1998, Silvio Santos abre mais de 24 horas da grade de sua emissora para o “Teleton”, em prol das pessoas com necessidades especiais. Quando Flávio Cavalcante morreu, ele tirou a emissora do ar, em sinal de respeito. Dercy Gonçalves tinha salário vitalício no SBT pelo carinho tido por ela. O seu Silvio que devolveu todas as escrituras dadas em garantia por Manoel de Nóbrega e fugiu para que Carlos Alberto não precisasse o agradecer por isso. O Silvio que trouxe um especialista alemão para dar uma perna mecânica a Wagner Montes é o mesmo que ensinou Raul Gil que se deve pagar todos os impostos e nunca sonegá-los.

O sorriso dos brasileiros não seria o mesmo se Silvio não tivesse se recuperado das cordas vocais na década de 80. O que seria de nós sem anos áureos de “Topa Tudo por Dinheiro”, “Show do Milhão”, “Em Nome do Amor” e “Porta da Esperança”? Se na economia temos o fator-chave do risco-país, na TV brasileira temos, sem dúvida, o risco-Silvio Santos. Como ficará a TV e, principalmente os domingos, sem Silvio Santos? Todos nem querem imaginar a resposta. O ritmo de festa do domingo não teria a leveza das marchinhas compostas por Manoel Ferreira ao sabermos que Silvio Santos não vem mais aí.

Quando Arlindo Silva resolveu escrever “A Fantástica História de Silvio Santos” ele não exagerava em nada ao fazer constar a palavra “fantástica”, apesar de se parecer com “nome feio”, como o apresentador costuma dizer. Contudo, sua história não dá para ser contada pronta e acabada. É uma rica mutação de situações, um homem que chega aos 80 anos dando uma aula ao povo brasileiro de ética ao preferir perder seus bens do que perder a honradez de seu nome perante o público.

Pode-se falar mais e mais e ainda não se terá uma definição para aquele que chamamos de Silvio Santos. Silvio pode ser definido como um homem que não se deixou levar pela TENTAÇÃO do TOPA TUDO POR DINHEIRO conseguido na carreira, nunca tendo deixado de dizer a verdade, NADA ALÉM DA VERDADE. Visionário, abriu a PORTA DA ESPERANÇA para GENTE QUE BRILHA Brasil afora e sua vida pessoal é marcada pela leveza e simplicidade de um DOMINGO NO PARQUE. Silvio não fez de sua trajetória um SHOW DO MILHÃO, pois sabia que a vida é cheia de TOPA OU NÃO TOPA e as opções desonestas eram a de UM GRANDE PERDEDOR. Podemos dizer que EM NOME DO AMOR pelo seu trabalho, fez do SBT, entre artistas e anônimos, uma CASA DOS ARTISTAS, pois ali estava um verdadeiro JOGO DAS FAMÍLIAS. Por isso tudo, ele é nosso REI, MAJESTADE maior da nossa televisão.

Dizem que nunca se pode dizer nunca. É algo como um tabu, que sempre pode ser quebrado. Mas talvez esse seja o mais difícil dos “nuncas” a ser quebrado. Alguém algum dia vai superar Silvio Santos? Impossível. A trajetória de vida e de TV desse cidadão brasileiro é insuperável. Algo que, felizmente, para todos nós, não precisou repetir Getúlio Vargas na sua carta-testamento ou Van Gogh, na sua história pessoal, em sair da vida para entrar para a história.

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