sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Crônicas de Ano Novo

Todo fim de ano é a mesma coisa. No dia 31, muitas pessoas são tomadas por uma emoção contagiante, que provoca muito mais intranqüilidade, angústia e ansiedade do que propriamente a alegria de viver uma grande festa.

Espera-se que, ao transcorrer a noite do último dia do ano, o mundo renasça, trazendo melhores dias, cheios de paz. Espera-se encontrar um novo amor, arranjar aquele emprego, conseguir pagar todas as dívidas. Planejamentos radicais nos sugerem pôr o passado a limpo. Expectativas muito altas carregam em seus pacotes o peso da esperança.

Por que se deixar levar por um simples decreto de calendário e acreditar que, a partir de 1º de janeiro, as coisas deverão mudar?

Por que escolher o último dia do ano, como se fosse o último de nossa vida, pra fazer um verdadeiro balanço dos bons e maus momentos vividos?

Por que nos dias das grandes festas, as tristezas são lembradas com mais intensidade? Por que não festejar as vitórias mesmo que tenham sido poucas?

Quanta pena tem de si mesmas as pessoas com tendência a se sentirem vítimas do destino!

O réveillon é um dia só. Ou melhor, é uma noite só!

E, no entanto, é capaz de causar tanto estrago na mente sofredora daqueles que têm o costume de rever o lado ruim do passado.

Você dorme num dia e, se estiver vivo, acordará no outro como acontece todos os dias e verá que tudo continuará igual. É a rotina.

Se você tiver equilíbrio emocional, repare que aquela imagem que está lá fora, na sua frente, continua lá. Aquele sol brilhante se abriu, como sempre se abre nos dias ensolarados; a chuva continua a cair, se assim tiver de ser, nos dias chuvosos de verão.

O que mudou? Você mudou?

Em qualquer dia do ano surge um novo amanhecer e com ele as chances de novas conquistas.

Precisamos praticar a mudança de hábitos. Todas as manhãs, ao abrirmos nossos olhos, devemos dar bom dia ao dia que nos é presenteado, pois ele poderá ser o dia da mudança.

Se não buscarmos as mudanças necessárias, tudo continuará como sempre. E não vai ser no dia 31 de dezembro que a transformação se fará por força do calendário.

Muitos passam réveillons em festas, observando pessoas felizes, de "caras limpas" e tantas outras de olhares tristes, sorrisos de retrato e com copo na mão. A noite do dia 31 parece ter algo que nenhuma outra talvez tenha.

Apesar disso, as mudanças e planos almejados podem mais do que perfeitamente acontecer numa tarde qualquer de março ou numa manhã qualquer de outubro. Porque esperar todo um ano?

Chega de fazer parte dessa imensa legião, que obedece às leis dos homens e segue à risca os dogmas de uma sociedade que pensa em bloco. O calendário é feito de folhas de papel.

O bom disso é que todos os dias podemos virar a página.

“Para você ganhar belíssimo Ano Novo, cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido), para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior); novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanhe ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (Planta recebe mensagens? Passa telegramas?), não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo. Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.” Carlos Drummond de Andrade

Nenhum comentário:

Postar um comentário