quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O sonho que eu não sonhei



Não o vi jogar. Só ouvi falar e através de documentos históricos pude acompanhar um pouco do maior momento da história do futebol.

Tenho dificuldade em falar sobre o que não vivi. Mas eu pergunto hoje, quando Pelé completa 73 anos: quem não viveu Pelé?

Qual o ser humano capaz de não ter visto, lido ou discutido uma vez sobre Pelé? Quem nunca o colocou no patamar de “adjetivo máximo”, como o “Pelé das pistas”, o “Pelé da cozinha” ou o “Pelé da arquitetura”?

Pelé não foi o “Pelé” de ninguém.

Foi o mais competente ser humano já inventado. O profissional que mais perfeitamente soube usufruir do dom que Deus lhe confiou. E não, não me venham com cientistas, matemáticos ou seja lá o que for. Nada é mais importante que a bola. E ela nunca respeitou ninguém como respeitou Pelé.

Cientistas não param guerras. Matemáticos não fazem americanos e iranianos se cumprimentarem e trocarem flores. A bola faz.

A bola faz o que bem entender. E só responde a um superior: Pelé.

No Brasil, onde pouco se faz uso da memória, às vezes fazem piadas, tentam ironizar e até separar Édson de Pelé. Impossível. Se de vez em quando diz algo que não concordemos, pouco importa. Direito conquistado. Pelé pode tudo.

Se cruelmente o tempo desgasta os feitos de um grande homem, imagine o de nós, mortais. Quem somos para julgá-lo?

Era uma vez o futebol. E então, o Brasil apresentado ao mundo. Como novidade chegamos, como donos da bola nos estabelecemos. Devemos isso a Pelé.

Toda cidade deste país deveria ter a “Avenida Pelé”. E não uma viela qualquer. E sim a rua principal da cidade, aquela que leva a periferia à nobreza, que atravessa tudo, não termina nunca.

Eu não pude comemorar um gol de Pelé. Sei que hoje, ainda mais no mundo podre e nefasto da web, é mais fácil ousar diminuí-lo a exaltá-lo todos os dias. Nosso Rei só será o que merece quando morto. Aliás, como todos os brasileiros notáveis.

Respirar diminui a grandeza de qualquer brasileiro.

Viver a era Pelé é um sonho. Eu não sonhei este sonho e acordado me recordo de tudo que não vi. Como se fizesse alguma diferença ter ou não passado a semana esperando um dos jogos que ele resolveu sozinho.

Hoje o Rei faz 73 anos. Não é ídolo da minha geração, mas talvez tenha sido o único ser vivo que vi meu pai e meus avôs olharem de baixo pra cima. E ele nem é tão alto.

Pelé foi onde nunca mais alguém irá.

É brasileiro, como eu e você. Parte do nosso cartão postal e, acredite, parte da nossa história.

Viva longa ao Rei Pelé! O ídolo que lamento não ter sido meu contemporâneo.

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