Costuma-se chamar de lenda uma narrativa fantasiosa, com um caráter fantástico e fictício, combinando fatos reais e históricos com fatos irreais que são meramente um produto da imaginação aventuresca humana. Adiciona-se elementos como as explicações plausíveis para os acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Seria fácil iludir nossos ouvintes, e eles estariam prontos para acreditarem em tudo, basta o fato ter ocorrido em um passado onde ele não viveu. Fale de Jesse Owens ou de Larissa Latynina. Cite Carl Lewis e relate os feitos obtidos por Paavo Nurmi. Não se esqueça de contar a histórica nota 10 de Nadia Comaneci ou o recorde incrível conseguido por Mark Spitz. Todos lendas do esporte, porque estão no passado. Se for hoje em dia parece que não vale muito, parece banal demais chamar um atleta atual de o maior de todos os tempos. Por que?
Privilegiados serão aqueles que viverão daqui 50 anos ou mais. Eles irão ouvir a história de um nadador orelhudo que simplesmente se tornou o maior medalhista olímpico de todos os tempos. Um cara que conquistou 22 medalhas em três edições olímpicas (18 de ouro, 2 de prata e 2 de bronze), apesar de ter disputado quatro. Isso se ele realmente se aposentar depois dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, aos precoces 27 anos. Um cara que até fez alguma besteira em sua vida pessoal, como por exemplo ser flagrado publicamente fumando um cigarro de maconha. Ele é uma lenda, como hoje são lendas Jesse Owens, Larissa Latynina, Carl Lewis, Mark Spitz e tantos outros. Exatamente porque quando é do passado, às vezes em preto e branco, parece mais fácil acreditar. Por todas as características que envolve uma lenda. Mas essa lenda é mais real do que qualquer outra, ela acontece diante de nossos próprios olhos e precisamos aceitar, entender e acima de tudo contemplar esses feitos extraordinários de Michael Phelps. E por que muitos não aceitam, como, por exemplo, o ex-atleta britânico Sebastian Coe?
Talvez seja pela forma de como a imagem do atleta é conduzida na mídia. Uma atleta que esteve nas Olímpiadas de Sydney 2000, mas que aos 15 anos de idade não passou do 5º lugar nos 200m borboleta. Prova que muito pouco tempo depois estabeleceria o novo recorde mundial. Phelps foi de desconhecido à celebridade que prometia vencer tudo em Atenas 2004. Ele ganhou 6 medalhas de ouro e 2 de bronze, um resultado excelente que foi considerado um fracasso. O americano não desistiu e então viria a conseguir a inacreditável marca de 8 medalhas de ouro em uma mesma Olímpiada, em Pequim 2008, superando Mark Spitz. Mas todos só lembram que ele quase perdeu uma prova e que seu companheiro o salvou no revezamento.
Michael Phelps não quase perdeu os 200m borboleta em Pequim, ele ganhou de forma incrível. Tão incrível como foi a vitória do sul-africano Chad Le Clos contra o próprio Phelps nesta mesma prova em Londres 2012. E Jason Lezak não o salvou no revezamento, porque o revezamento é uma equipe e cada um tem o seu fator de importância fundamental. Phelps fez história quando se tornou o maior medalhista de ouro de todos os tempos e quando venceu 8 ouros na mesma edição dos jogos. Quando alguém fará isso novamente? E isso aconteceu quando ele já tinha 6 de ouro. E antes de voltar para conseguir outras de ouro, beliscou uma prata que ainda não tinha, mas perdendo de cabeça erguida, reconhecendo a superioridade do rival e compatriota Ryan Lochte. Isso o faz ser ainda maior do que já é.
Quem foi lenda sempre continuará sendo lenda. Quem foi grande continuará sendo grande. Quem marcou seu nome na história nunca o verá ser apagado dela. E quando alguém maior surgir, não temos que esperar o tempo passar para reconhecer seus feitos, para ver como ele fora incrível e marcara época em nosso próprio tempo. Michael Phelps é o maior atleta olímpico da história. E tudo depois de voltar e conseguir mais, quando todos duvidavam de suas condições e o chamavam de acabado. Isso sem falar que no Rio 2016 ainda pode marcar um retorno triunfal da lenda, para que, quem sabe, todos consigam ver e entender realmente o que está acontecendo diante de seus próprios olhos.
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