quinta-feira, 28 de abril de 2011

Um casamento real surreal

29 de abril de 2011, dia do casamento do príncipe William com a plebéia Kate Middleton. A humanidade nos quatro cantos do planeta já está e vai continuar a ouvir falar sobre este assunto e seus detalhes à exaustão, numa grande cobertura jornalística agendada pela mídia internacional.

O circo (a expressão faz um certo sentido, já que trata-se de uma palhaçada, ainda mais por ser o próprio contribuinte inglês quem arcará com os custos) montado para a ocasião será motivo de notícia por causa dos olhos do príncipe, da destacável simetria do corpo da noiva, do roteiro por onde passará a carruagem, da cor do cavalo que a conduzirá, da lista de convidados, da decoração da abadia, do vestido exclusivamente desenhado para a celebração, enfim de qualquer gesto ou movimento, ainda que silencioso, dos nubentes.

Até que o casal real saia da Abadia de Westminster e desapareça uma secreta viagem de lua-de-mel, a idiotice vai continuar sendo transmitida mundo afora, repetindo a história de Lady Di, celebrando o casal real e despertando nas jovens plebéias ocidentais o sonho de um casamento maravilhoso com o príncipe encantado.

Desnecessário dizer que as coisas não são bem assim. Nem mesmo nas encantadas e ricas famílias reais, onde grande parte das relações é para inglês ver (literalmente!) e a mágica é tão fugaz quanto o da Gata Borralheira. Com direito a traições e lances jocosos como uma amante que escreve ao príncipe: "Quero ser o seu Tampax".

Na repetição do protocolo, conforme manda o ritual repetido há séculos, tem-se a leve impressão de estar vendo um filme repetido. No anterior, os personagens Charles e Diana viveram uma turbulenta relação que teve um fim trágico. Tirando a feiúra de Camila Parker Bowles e do príncipe Charles, parece mesmo coisa de cinema, que pode até ter um toque de ação e mistério: para evitar um escândalo real, o MI-5 tem a missão de assassinar a princesa e seu amante árabe, Dodi Al-Fayed, integrante de uma organização terrorista, que pretende destruir o Big-Ben. Perseguidos pelos agentes ingleses, acabam mortos quando o carro em que estavam capota em alta velocidade num túnel de Paris.

Interessante é que nos outros países onde ainda existem famílias reais, como Suécia, Espanha, Mônaco, Dinamarca, Finlândia, Japão, não se vê este tipo de espetáculo. São mais discretos. Vai ver estas outras realezas não se interessam pelos direitos de transmissão dos casamentos espetaculosos de seus sucessores nem fazem questão de se expor a tal ponto, estabelecendo uma relação com a mídia e com os plebeus do mundo diferente da britânica, que acaba por celebrizar e tornar pública situações que deveriam permanecer restrita às muralhas dos palácios.

Afinal, o que o casamento real tem a dizer às garotas pobres que se prostituem por alguns trocados com ingleses que fazem turismo sexual no Nordeste brasileiro? O que isso tem a ver com a realidade brasileira de jovens adolescentes viciados em crack? Por que esta imprensa imbecil tem que ficar divulgando este assunto mundo afora, como se todo mundo quisesse saber quem foi convidado para o casamento real? Que lógica existe nisso?

Portanto, desde já, leitor, boicote este assunto. Feche o jornal, desligue a TV, clique em outra página da internet, pule esse assunto. Dê um basta nesta idiotice para que os paparazzi não tenham que matar outro casal real num túnel qualquer por aí.

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ps.: em tempo, exemplo de como se fazer um casamento realmente popular!

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